As crianças nascidas por cesariana possuem menor proteção contra o sarampo se forem vacinadas com apenas uma dose em comparação com os bebês nascidos por parto vaginal, conforme apontado por cientistas.
Especialistas da Universidade de Cambridge e da Universidade Fudan, na China, destacaram a importância de as crianças receberem ambas as doses da vacina contra o sarampo para assegurar a proteção contra essa doença fatal.
Um estudo realizado com 1.505 crianças nascidas em Hunan, na China, revelou que 12% das crianças nascidas por cesariana não desenvolveram imunidade após a primeira vacinação contra o sarampo, em comparação com 5% das crianças nascidas por parto vaginal.
Essa pesquisa surge em um momento de crescente preocupação global com o aumento de casos de sarampo e a queda na vacinação contra o sarampo, caxumba e rubéola.
Os pesquisadores responsáveis pelo estudo mencionam que a falta de imunidade em crianças nascidas por cesariana está relacionada ao desenvolvimento do microbioma intestinal do bebê, ou seja, com a grande diversidade de micróbios que habitam naturalmente o intestino.
Estudos anteriores já apontaram que o parto vaginal possibilita uma maior variedade de micróbios da mãe para o bebê, o que pode estimular o sistema imunológico.
O estudo foi observacional, não permitindo determinar se a resposta imunológica das crianças foi diretamente influenciada pelo tipo de parto ou por outros fatores, como as características das mulheres que realizam cesarianas.
Dados recentes indicam que, no Reino Unido, apenas 89,1% das crianças receberam a primeira dose da vacina tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) até os dois anos de idade.
Aproximadamente 85% das crianças no Reino Unido receberam ambas as doses até os cinco anos de idade, o que está abaixo dos 95% necessários para alcançar a imunidade coletiva e conter a propagação da doença.
Especialistas das Universidades de Cambridge e Fudan alertam que as baixas taxas de vacinação contribuíram para um surto de sarampo no Reino Unido.
No novo estudo, os pesquisadores analisaram dados de 1.505 crianças em Hunan, na China, incluindo amostras de sangue coletadas regularmente desde o nascimento até os 12 anos de idade.
Isso possibilitou observar como a imunidade ao sarampo evolui ao longo do tempo, inclusive após a vacinação.
Os pesquisadores afirmaram que bebês nascidos por cesariana apresentaram “2,56 vezes mais chances de falha na vacinação primária” em comparação com bebês nascidos por parto vaginal.
Porém, as crianças nascidas por cesariana que receberam a segunda dose da vacina contra o sarampo desenvolveram imunidade robusta contra a doença.
O professor Henrik Salje, da Universidade de Cambridge e autor sênior do estudo, destacou a importância de acompanhar de perto os bebês nascidos por cesariana para garantir que recebam a segunda dose da vacina contra o sarampo, já que a primeira dose tem maior probabilidade de falhar.
No Reino Unido, a primeira dose da vacina tríplice viral é geralmente aplicada no NHS entre 12 e 13 meses de idade, enquanto a segunda dose, para proteção completa, é administrada entre três anos e quatro meses e cinco anos de idade.
Adam Finn, professor de pediatria da Universidade de Bristol, ressaltou que os novos dados são observacionais e não comprovam causalidade, mas complementam evidências prévias sugerindo que bebês nascidos por parto vaginal e/ou amamentados apresentam respostas imunológicas mais fortes e confiáveis.
Ele enfatizou a importância de pesquisas adicionais sobre o tema, pois o número de cesarianas continua a aumentar.
O novo estudo foi publicado na revista Nature Microbiology.