Os cientistas podem finalmente ter descoberto uma explicação para o chamado “paradoxo da obesidade” em relação ao câncer. Este paradoxo refere-se ao fato de que a obesidade pode aumentar o risco de desenvolver certos tipos de câncer, mas também pode melhorar a resposta do paciente à imunoterapia, um tratamento promissor para o câncer. Pesquisadores liderados pelo Centro Médico da Universidade Vanderbilt, nos Estados Unidos, identificaram uma descoberta crucial por trás dessa relação complexa entre obesidade e câncer, que pode eventualmente levar a avanços no tratamento do câncer por meio da imunoterapia.
Um estudo recente, publicado na revista Nature, revelou que as células do sistema imunológico conhecidas como macrófagos desempenham um papel significativo nesse contexto. Ao analisarem ratos e amostras de tumores de pacientes com câncer renal, os pesquisadores observaram que a obesidade aumenta a presença de macrófagos nos tumores cancerígenos e promove a produção de uma proteína chamada PD-1. Essa proteína é alvo de imunoterapias contra o câncer, que buscam potencializar a capacidade do sistema imunológico do paciente de combater as células cancerígenas.
A equipe de pesquisa constatou que o aumento da PD-1 suprime a atividade de vigilância imunológica dos macrófagos, o que por sua vez inibe a ação das células T assassinas, responsáveis por combater as células cancerígenas. Esse mecanismo facilita o crescimento dos tumores e pode explicar o aumento do risco de câncer associado à obesidade. Além disso, os cientistas descobriram que a PD-1 atua diretamente nos macrófagos, suprimindo sua função normal. Quando a PD-1 foi bloqueada por meio da imunoterapia, houve uma melhora na atividade dos macrófagos, possibilitando uma resposta mais eficaz do sistema imunológico contra o câncer.
Essa descoberta também lança luz sobre o motivo pelo qual pessoas obesas podem apresentar uma resposta mais favorável à imunoterapia. Estudos em tumores humanos indicaram que a expressão de PD-1 nos macrófagos diminuiu quando os pacientes perderam peso, sugerindo que a obesidade pode modular a eficácia da imunoterapia. O professor Jeffrey Rathmell, diretor do Centro Vanderbilt de Imunobiologia, destacou a importância dessas descobertas ao afirmar que a obesidade é um dos principais fatores de risco modificáveis para o câncer e que compreender os mecanismos envolvidos pode abrir caminho para melhorias na imunoterapia.
A pesquisadora principal, Dr. Jackie Bader, ressaltou o papel crucial dos macrófagos no contexto do câncer e da obesidade. Ela comparou essas células a “caminhões de lixo”, responsáveis por limpar detritos, mas também destacou sua versatilidade e capacidade de modular a resposta imunológica. A colaboração com parceiros que forneceram amostras de pacientes antes e depois da perda de peso reforçou as descobertas feitas em modelos animais.
A conclusão dos pesquisadores foi de que a proporção de macrófagos que expressam PD-1 em um tumor pode influenciar a resposta à imunoterapia. Estudos futuros poderão explorar essa relação e buscar estratégias para melhorar a eficácia da imunoterapia em pacientes obesos. Essa pesquisa representa um avanço significativo no entendimento do “paradoxo da obesidade” em relação ao câncer e destaca o potencial da imunoterapia como uma abordagem terapêutica inovadora.