Evento de Jair Bolsonaro em Copacabana: Um Ato esvaziado e Discurso de Perseguição ao STF

Em um cenário político cada vez mais polarizado, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) realizou um ato em Copacabana no último domingo, 16 de março, que atraiu significativamente menos público do que o esperado. Com projeções que chegavam a um milhão de participantes, o evento acabou contabilizando, segundo o Monitor do Debate Político da Universidade de São Paulo (USP), aproximadamente 18,3 mil pessoas. Esta cifra representa uma queda expressiva de mais de 70% em relação a uma manifestação semelhante realizada em setembro de 2022, que contou com 64,6 mil apoiadores.

A Expectativa e a Realidade do Ato em Copacabana

Expectativas Inflacionadas

As manifestações em apoio a Jair Bolsonaro têm sido um espetáculo de mobilização em sua maior parte desde a sua presidência, com grandes concentrações de pessoas mostrando apoio ao seu governo e criticando as decisões do Supremo Tribunal Federal (STF). Para o ato de 16 de março, o organizador previu uma multidão de até um milhão de pessoas, um número que impressionaria qualquer analista político e demonstraria que a base a partir da qual Bolsonaro atua ainda estava forte.

A Frustração dos Organizadores

Porém, ao final do dia, a realidade se mostrou muito diferente. Com a ajuda de tecnologia de análise de público, como o método Point to Point Network (P2PNet), a contagem de espectadores foi feita de forma detalhada, gerando uma estimativa que deixou organizadores e apoiadores decepcionados. Apenas 18.300 pessoas compareceram ao evento.

Esta discrepância nas expectativas levanta questionamentos sobre a fidelidade do apoio que Bolsonaro ainda pode contar entre seus apoiadores, e instiga uma análise sobre os fatores que podem ter contribuído para esse esvaziamento. Entre esses fatores, a dinâmica política atual e a perda de popularidade foram destacados como possíveis influências.

A Retórica de Bolsonaro: Discurso e Mensagens

Mensagens Centrais

Durante o evento, Bolsonaro teve a chance de discursar para os seus apoiadores do trio elétrico, em companhia de figuras proeminentes como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e seu filho, Flávio Bolsonaro (PL). Em seu discurso, ele reiterou a retórica de perseguição política que frequentemente emprega, focando nas suas críticas ao STF.

Bolsonaro afirmou: “Só não foi perfeita esta historinha de golpe para eles porque eu estava nos Estados Unidos [no 8 de janeiro]. Se eu estivesse aqui, estaria preso até hoje ou quem sabe morto por eles. Eu vou ser um problema para eles, preso ou morto”, utilizando esse argumento como forma de construir uma narrativa de vítima, perpetuando a ideia de que existe uma conspiração contra seu governo.

Acusações ao Supremo Tribunal Federal

O ex-presidente, continuando em seu tom de indignação, declarou que “o que eles querem é uma condenação. Se é 17 anos para as pessoas humildes, é para justificar 28 anos para mim. Não vou sair do Brasil”, referindo-se ao processo ao qual ele está submetido, e ao qual está sendo acusado de liderar uma organização criminosa em um golpe de Estado.

Essa mensagem ressoou fortemente com parte de seus apoiadores, mas a quantidade reduzida de público naquele dia levanta questionamentos sobre o quão eficaz essa retórica ainda é em mobilizar as massas.

O Contexto Jurídico

O Julgamento à Vista

A manifestação aconteceu em um momento crucial, com a Primeira Turma do Supremo prestes a decidir se tornará ou não Bolsonaro réu em relação ao papel que desempenhou na trama golpista do dia 8 de janeiro. As denúncias da Procuradoria-Geral da República atribuem cinco crimes ao ex-presidente:

1. Liderança de organização criminosa armada;
2. Tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito;
3. Golpe d'État;
4. Dano qualificado por violência e grave ameaça contra o patrimônio da União;
5. Deterioração de patrimônio tombado.

A expectativa em torno do julgamento, marcado para o dia 25 de março, pode aumentar as tensões políticas no país e afetar a imagem de Bolsonaro, tanto no curto quanto no longo prazo.

A Nova Realidade Política

Reflexões sobre o Apoio a Bolsonaro

O evento em Copacabana não apenas foi um indicador do apoio decrescente a Bolsonaro, mas também um sinal de que o clima político no Brasil está mudando, uma vez que as audiências e opiniões públicas parecem estar se afastando de suas posturas combativas habituais. A dissipação do número de apoiadores presente no ato em Copacabana pode sinalizar um momento de reflexão para aqueles que ainda se identificam com seu ideário político.

Implicações Futuras

Os efeitos da manifestação e o discurso realizado pelo ex-presidente podem continuar a reverberar na política brasileira. Fatores como as próximas eleições, o papel da oposição e as decisões do STF podem moldar os próximos capítulos desta complexa rede política. A habilidade de Bolsonaro em revitalizar sua base de apoio será um elemento crucial para sua viabilidade política futura.

Conclusão

O ato de Jair Bolsonaro em Copacabana serve como um microcosmo das lutas políticas mais amplas que o Brasil enfrenta atualmente. Com um público significativamente menor do que o esperado e um discurso que se mantém na linha de ataque ao Supremo Tribunal Federal, a trajetória política do ex-presidente continua repleta de desafios. A próxima decisão do STF e a forma como Bolsonaro reagirá a esse momento serão, sem dúvida, cruciais para moldar seu futuro político e o cenário da política brasileira nos meses seguintes.

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Imagem: Vista aérea da manifestação promovida pelo ex-presidente Jair Bolsonaro em Copacabana, no Rio de Janeiro. Crédito: Mauro Pimentel/AFP