Congresso pode aliviar penas do 8 de Janeiro e colocar STF diante de decisão histórica
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Projeto aprovado no Congresso pode reduzir penas de envolvidos no 8 de Janeiro. Saiba o que o STF pode fazer e os impactos políticos.
A relação entre Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal (STF) entrou em um novo capítulo de tensão institucional após o avanço de um projeto de lei que pode reduzir significativamente as penas de condenados pelos ataques golpistas de 8 de janeiro de 2023. A medida, conhecida como PL da dosimetria, abre espaço para que punições aplicadas a réus incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro sejam recalculadas, o que reacende o debate sobre limites entre os Poderes e o futuro das condenações por crimes contra a democracia.
A proposta não anula processos nem extingue crimes, mas altera a forma como as penas são somadas. Na prática, isso pode diminuir o tempo de prisão de quem foi condenado por mais de um crime ligado à tentativa de golpe de Estado. O avanço da iniciativa levanta uma pergunta central: o que o STF pode fazer se o Congresso mudar as regras do jogo?
O que muda com o projeto aprovado no Congresso
Atualmente, o STF tem aplicado penas que somam crimes como tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, associação criminosa e dano ao patrimônio público. O projeto aprovado na Câmara propõe que esses crimes deixem de ser acumulados quando fizerem parte do mesmo contexto, aplicando apenas a pena do delito mais grave.
Especialistas ouvidos por veículos da imprensa explicam que essa mudança pode reduzir em vários anos as condenações impostas aos réus do 8 de janeiro. Além disso, o texto facilita a progressão de regime, permitindo que condenados passem mais rapidamente do regime fechado para o semiaberto ou domiciliar.
Embora o discurso de apoio ao projeto aponte “excessos” nas punições, críticos afirmam que a proposta representa uma tentativa clara de suavizar a resposta do Estado a um dos episódios mais graves contra a democracia brasileira desde o fim da ditadura.

Por que o STF não é obrigado a reduzir penas automaticamente
Um ponto fundamental frequentemente ignorado no debate público é que, mesmo que o projeto vire lei, o STF não é obrigado a aplicar automaticamente as novas regras a todos os condenados. Juridicamente, a mudança abre espaço para pedidos de revisão das penas, mas cada caso precisará ser analisado individualmente pelos ministros.
Ou seja, caberá à Corte decidir se a nova legislação é aplicável a cada sentença já proferida. Em alguns casos, ministros podem entender que a redução cabe; em outros, que a gravidade dos fatos justifica a manutenção das punições originais, dentro das margens legais.
Isso significa que a simples aprovação do projeto não garante liberdade ou redução imediata de pena para os condenados — incluindo figuras centrais investigadas por articulação golpista.

A lei pode ser derrubada por inconstitucionalidade?
Segundo análises jurídicas publicadas pela imprensa nacional e internacional, a chance de o STF derrubar integralmente a lei por inconstitucionalidade é considerada baixa. Isso porque cabe ao Congresso definir critérios de dosimetria penal, desde que não viole cláusulas constitucionais.
Diferente de um projeto de anistia — que apagaria crimes já julgados — o texto apenas altera o cálculo das penas, algo que, em tese, está dentro das prerrogativas do Legislativo. Esse detalhe torna mais difícil uma contestação direta da lei como afronta à Constituição.
O embate, portanto, não tende a ser sobre a validade da lei, mas sobre como e até onde ela será aplicada.

Bolsonaro e o núcleo do golpe no centro do debate
Embora o projeto atinja centenas de condenados, o foco político está em Jair Bolsonaro e em outros nomes apontados como centrais na tentativa de ruptura institucional. Caso a lei seja aplicada de forma ampla, há a possibilidade de redução significativa de penas — o que pode impactar diretamente o cenário político nacional.
Ainda assim, ministros do STF têm indicado, nos bastidores, que não pretendem tratar todos os réus de forma uniforme. A diferenciação entre executores, financiadores e articuladores do ataque é vista como um dos critérios para manter penas mais duras nos casos considerados mais graves.

Um precedente instável para a democracia?
Para críticos, o projeto cria um precedente preocupante: o de o Congresso reagir a decisões judiciais endurecendo ou afrouxando regras conforme conveniências políticas momentâneas. Para defensores, trata-se apenas de corrigir excessos e garantir proporcionalidade nas penas.
Independentemente do lado do debate, o episódio coloca o STF diante de uma decisão histórica. A Corte precisará equilibrar o respeito às prerrogativas do Legislativo com a necessidade de preservar a autoridade de decisões que buscaram proteger o Estado Democrático de Direito.
O desfecho desse confronto institucional não afetará apenas os condenados do 8 de janeiro, mas também definirá os limites de atuação entre os Poderes e a mensagem que o Brasil enviará sobre como lida com ataques à democracia.
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