Donetsk: o ponto central de tensão nas negociações de paz entre Rússia e Ucrânia
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Região de Donetsk concentra disputa territorial entre Rússia e Ucrânia e trava negociações de paz — entenda por que o impasse persiste.
A região de Donetsk voltou ao centro das atenções nas recentes negociações de paz entre Rússia e Ucrânia e, mais uma vez, aparece como o maior obstáculo para o fim do conflito que já dura quase quatro anos.

O que está em Disputa
A guerra ganhou uma nova dimensão em 2022, quando a Rússia anexou formalmente várias regiões do leste ucraniano, entre elas Donetsk, após referendos considerados ilegítimos por Kiev e pela comunidade internacional.
Apesar disso, uma parcela de Donetsk permanece sob controle da Ucrânia — cerca de 5 mil km², segundo autoridades americanas envolvidas nas negociações.
Para Moskva, a exigência é clara: qualquer acordo de paz só será possível se a Ucrânia ceder o controle de toda a região.
Por outro lado, Kiev considera qualquer cessão como inaceitável. O presidente Volodymyr Zelensky afirmou que entregar Donetsk seria inconstitucional, abriria precedente para novas agressões e representaria traição ao povo ucraniano.
Por que Donetsk é tão estratégico — e simbólico
Há fatores que vão além dos mapas:
- Estratégia militar: As áreas que a Ucrânia ainda controla em Donetsk — como as cidades de Sloviansk e Kramatorsk, elas funcionam como “cinturão de defesa”, com fortificações, bunkers, obstáculos antitanque e campos minados. Perder esse território poderia abrir caminho para ofensivas russas em direção ao centro do país.
- Recursos e infraestrutura: Historicamente, Donetsk era um dos polos industriais mais importantes da Ucrânia com mineração de carvão, siderurgia, ferrovias, portos e indústrias pesadas. Apesar dos estragos da guerra, a importância econômica da região ainda pesa nas ambições de quem deseja controlá-la.
- Valor simbólico e narrativo: A Rússia construía, desde 2014, uma narrativa baseada na proteção da população de língua russa no Donbass. Para o Kremlin, garantir o controle total de Donetsk fortalece sua justificativa histórica e política para a guerra. Já para a Ucrânia, ceder a região significaria reconhecer a eficácia da agressão e abrir espaço para novas invasões.
A paz permanece distante: Por que o impasse persiste
Fontes que acompanham as negociações classificam a “questão territorial” como “a mais problemática” para um acordo entre Rússia e Ucrânia.
Do lado russo, a posição é inegociável: sem a cessão de Donetsk não há trégua. Do lado ucraniano, há convicção de que aceitar isso seria uma capitulação inaceitável, tanto moral quanto estratégica, abrindo mão de território conquistado com sacrifício e colocando em risco a segurança de todo o país.
Além da resistência interna, há o aspecto da legalidade: modificar as fronteiras da Ucrânia exigiria, na prática, um referendo popular, algo visto como politicamente impossível no atual contexto de guerra.
Implicações para o futuro da Ucrânia e da paz no Leste Europeu
A resistência ucraniana a ceder Donetsk tem apoio majoritário da população. Muitos consideram que a soberania nacional e a integridade territorial são não negociáveis, mesmo diante do desejo global por fim dos combates.
Se a Rússia conseguir forçar uma rendição territorial, o risco é que a guerra continue com novos frontes, alimentando instabilidade e insegurança para a Ucrânia. Por outro lado, insistir na retomada integral do território pode prolongar o conflito.
Para a comunidade internacional, o impasse é um dilema: pressionar por um cessar-fogo significa aceitar concessões territoriais o que enfraqueceria a posição da Ucrânia. Mas recusar essas concessões pode significar guerra por muitos anos.
Donetsk resume os desafios centrais da guerra entre Rússia e Ucrânia: disputa territorial, relatos de injustiça histórica, interesses estratégicos e dor profunda de quem vive o conflito. A região não é apenas um pedaço de terra no mapa — ela representa o futuro de um país, a memória de gerações e a credibilidade das promessas de paz.
Enquanto Donetsk continuar em disputa, o fim do conflito parece distante. A paz dependerá, antes de tudo, da disposição de Moscou e de Kiev em negociar — algo que, por ora, parece fora do alcance.
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