Por que Fernando de Noronha já foi a ‘Ilha Maldita’

Fernando de Noronha, hoje paraíso natural, já abrigou prisões e ganhou o apelido de “Ilha Maldita”. Entenda a história, da colônia penal ao patrimônio da UNESCO.

Por que Fernando de Noronha já foi a ‘Ilha Maldita’
Por que Fernando de Noronha já foi a ‘Ilha Maldita’ - Foto por Gasparotto

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Fernando de Noronha, o paraíso natural do Brasil, já foi chamada de “Ilha Maldita” — não por acaso. Muito antes de virar cartão-postal, o arquipélago serviu como área de isolamento e abrigou estruturas prisionais entre os séculos XVIII e XX, o que consolidou a fama dura do lugar. Hoje, o destino está na lista de Patrimônios Naturais da Humanidade e é um laboratório de conservação marinha. Vamos ligar os pontos dessa virada histórica.

Linha do tempo: de presídio isolado a patrimônio mundial

AnoFato marcante
Séculos XVIII–XIXConstrução do sistema de fortificações (como a Fortaleza de Nossa Senhora dos Remédios) e uso recorrente da ilha como local de confinamento. JCWikimedia Commons
1930sEstruturas penais ainda ativas e registro do passado carcerário em fotos históricas. Wikimedia Commons
14 set. 1988Criação do Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha (PARNAMAR-FN) por decreto federal. Portal da Câmara dos DeputadosLegislaçãoFAOLEX
2001Fernando de Noronha e o Atol das Rocas entram na lista da UNESCO (Brazilian Atlantic Islands). Centro do Patrimônio Mundial da UNESCO+1

Por que chamaram de “Ilha Maldita”?

Entre os séculos XIX e XX, Noronha abrigou prisões. O isolamento geográfico, as condições rústicas e a função punitiva do arquipélago sedimentaram o apelido “Ilha Maldita” em jornais e relatos de época — um contraste absoluto com o paraíso turístico de hoje.

A Vila dos Remédios e seu conjunto de edificações (Palácio de São Miguel, Igreja de N. Sra. dos Remédios e a Fortaleza) nasceram em parte do trabalho forçado de detentos, prática comum em colônias penais daquele período.


O cotidiano no arquipélago penal

Relatos apontam celas estreitas, estruturas simples e pouca proteção contra o clima. O arquipélago era, em essência, um lugar de confinamento distante do continente, o que explica a dureza do apelido. Hoje, as ruínas da “Aldeia dos Sentenciados” — uma das poucas remanescentes do sistema carcerário — ajudam a contar essa história aos visitantes.

Aldeia dos Sentenciados (em ruínas)
Última edificação de grande porte vinculada ao antigo sistema prisional, projetada para abrigar presos solteiros; pode ser visitada em roteiros históricos oficiais.

Fortes, igreja e a “colina do pôr do sol”

  • Fortaleza de Nossa Senhora dos Remédios (tombada em 1961) domina a paisagem da vila e reúne camadas do passado militar, religioso e administrativo. Após restaurações recentes, o espaço ganhou usos culturais e vista clássica do pôr do sol.
  • Igreja de N. Sra. dos Remédios (1737) e o Palácio de São Miguel (antiga diretoria do presídio) completam o circuito histórico a pé.

Da “Ilha Maldita” ao santuário ecológico

A guinada institucional começou com a criação do Parque Nacional Marinho (1988), que delimitou áreas de proteção para praias, enseadas e costões — base para o modelo de visitação controlada.

Em 2001, o conjunto “Brazilian Atlantic Islands” (Noronha + Atol das Rocas) foi inscrito pela UNESCO pela importância ecológica: berçários de tubarões, tartarugas, golfinhos e aves marinhas, além de alta visibilidade subaquática.


O que ver hoje para entender o passado

  • Ruínas da Aldeia dos Sentenciados: vestígio-chave do sistema penal.
  • Fortaleza dos Remédios (museografia e mirante): leitura rápida da linha do tempo local.
  • Redutos e fortes do século XVIII (Boldró, Santo Antônio, etc.): peças de um dos maiores sistemas de fortificação do Brasil colonial.

Noronha turística, mas com regras

Para proteger fauna, flora e recifes, o acesso a trilhas e mergulhos exige agendamento e limites de visitantes. O parque é gerido pelo ICMBio, e o distrito adota políticas como plástico zero e taxa de preservação ambiental. Consulte os sites oficiais antes de viajar.

Fernando de Noronha
Fernando de Noronha - Foto por Jaime Spaniol

Perguntas que as pessoas fazem (FAQ)

Noronha ainda tem “cadeia”?
Não. O que existe são ruínas e edificações históricas associadas ao antigo sistema carcerário, como a Aldeia dos Sentenciados e a Fortaleza.

De onde veio o apelido “Ilha Maldita”?
Do uso penal e do isolamento durante os séculos XIX e XX, quando o arquipélago abrigou prisões e estruturas de contenção. A imprensa e o imaginário popular consolidaram o rótulo.

Quando começou a virada para o turismo sustentável?
O marco legal é de 1988, com a criação do Parque Nacional Marinho. A partir daí, o manejo ambiental e a visitação controlada se consolidaram. Em 2001, veio o selo UNESCO.

Quais são as melhores paradas para entender a história?
Vila dos Remédios (igreja, palácio e fortaleza), ruínas da Aldeia dos Sentenciados e o circuito de redutos militares do século XVIII.


Curadoria de fontes e documentos

  • Por que o apelido “Ilha Maldita”: compilações recentes relembram o passado penal e o contraste com o status de paraíso turístico.
  • Conjunto histórico e trabalho de presos na Vila dos Remédios.
  • Aldeia dos Sentenciados (única grande remanescente carcerária aberta à visitação).
  • Criação do Parque Nacional (1988), base da gestão ambiental.
  • UNESCO (2001) — justificativas ecológicas e documentos do sítio “Brazilian Atlantic Islands”.
  • Informações oficiais de visitação (ICMBio/Parque e Portal Distrital).

Fernando de Noronha

A trajetória de Fernando de Noronha resume dois Brasis: o do passado punitivo e o do presente que tenta preservar. O apelido “Ilha Maldita” ficou na história, enquanto o arquipélago — biodiverso, regulado e com capacidade de carga controlada — virou laboratório vivo de conservação e educação ambiental. Entender essa virada não é só curiosidade: é um lembrete de que lugares podem se reinventar quando a sociedade escolhe proteger em vez de explorar.

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