O homem que viveu 18 anos em um aeroporto – a história real que virou filme
A impressionante história real de Mehran Karimi Nasseri, o homem que viveu 18 anos no aeroporto Charles de Gaulle e inspirou "O Terminal".

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Introdução: Um aeroporto, um homem e o tempo parado
O relógio digital marca 6h42 da manhã no Terminal 1 do Aeroporto Charles de Gaulle, em Paris. Passageiros ainda sonolentos arrastam malas, funcionários de limpeza passam os rodos nos pisos metálicos, o som dos alto-falantes ecoa em três idiomas anunciando voos para Nova York, Tóquio e Frankfurt. O espaço parece uma cidade dentro de outra cidade: cafés acendendo luzes, duty free abrindo portas, o movimento incessante de quem está de passagem.
No meio desse vai e vem, uma figura não se move. Um homem magro, de terno gasto, sempre barbeado, sentado em um banco vermelho próximo ao bar “Paris Bye Bye”. Ao seu redor, malas antigas, jornais dobrados e pilhas de cadernos rabiscados em letras firmes.
Ele não espera embarque. Não está perdido. Não perdeu conexão. Ele mora ali.
Durante 18 anos, esse banco e aquele canto do terminal foram sua casa. Seu quintal era feito de corredores de embarque, seu teto era a estrutura circular de concreto brutalista construída nos anos 70, seu despertador era o barulho das rodas das malas e o som metálico dos anúncios de voos.
Esse homem era Mehran Karimi Nasseri, que preferia ser chamado de “Sir Alfred”. Um refugiado iraniano que se tornou o mais famoso habitante de um aeroporto na história contemporânea. Sua vida é a síntese do absurdo moderno: preso não por grades, mas por papéis, carimbos e burocracias.
A seguir, você vai conhecer sua história completa — tão rica em detalhes que parece ficção, mas foi dolorosamente real.
Capítulo 1 — Origens em um Irã em ebulição
Mehran nasceu em 1945, em Masjed Soleyman, uma cidade situada na província de Khuzistão, no sudoeste do Irã. Essa não era uma cidade qualquer: foi ali que, em 1908, ocorreu a primeira extração comercial de petróleo no Oriente Médio. Desde então, Masjed Soleyman se tornou um símbolo do poder estrangeiro sobre o petróleo iraniano, dominado pela Anglo-Iranian Oil Company, precursora da BP (British Petroleum).
O pai de Nasseri trabalhava como médico da companhia. Isso colocava sua família em uma posição relativamente privilegiada dentro da hierarquia social local, em contato direto com técnicos britânicos e executivos estrangeiros. Essa convivência precoce com ocidentais teria impacto profundo na mente de Nasseri, que sempre buscou uma identidade europeia.
A história sobre sua mãe, no entanto, nunca foi clara. Ele próprio dizia que era britânica, o que reforçava sua autoimagem de pertencimento ao Ocidente. Documentos oficiais, contudo, indicam que ela era iraniana. Essa contradição seria um dos pilares de seu conflito interno: quem era, afinal, Mehran Karimi Nasseri? Um iraniano do Khuzistão ou um homem com raízes britânicas?
O contexto político do Irã nas décadas de 40 e 50 também pesava. O país vivia sob a monarquia do xá Mohammad Reza Pahlavi, aliado do Ocidente, enquanto movimentos nacionalistas e religiosos cresciam em oposição ao domínio estrangeiro. Em 1951, o primeiro-ministro Mohammad Mossadegh nacionalizou o petróleo, retirando o controle das companhias britânicas. Dois anos depois, um golpe apoiado pela CIA e pelo MI6 restaurou o poder do xá e devolveu o petróleo ao controle estrangeiro.
Esse ambiente de instabilidade política, misturado ao choque cultural entre modernização e tradição, marcaria a infância de Nasseri. Ele cresceu em um país dividido: de um lado, a promessa de modernidade ocidental; de outro, a realidade de autoritarismo e desigualdade.

Capítulo 2 — O jovem acadêmico no Reino Unido
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