O governo da Venezuela e sua oposição iniciarão um novo diálogo sexta-feira no México. É a terceira tentativa em quatro anos, e está cercada por expectativas muito baixas dos analistas e até mesmo apatia dos cidadãos da conturbada nação sul-americana.
O governo do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, pode desempenhar um papel fundamental no processo, porque o governo do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, busca a flexibilização de sanções econômicas paralisantes.
Aqui está um resumo do motivo pelo qual o diálogo está ocorrendo:
O QUE O GOVERNO VENEZUELANO ESTÁ PROCURANDO?
Maduro está em uma posição de maior força diante de uma oposição que se enfraqueceu e se fragmentou desde as últimas rodadas de negociações em 2017-2018 e 2019. Seus oponentes estão perdendo a capacidade de pressionar o governo socialista nas ruas ou no Nacional Assembleia que já não é dirigida pela oposição.
Analistas sugerem que o único interesse de Maduro nessas negociações é fazer com que o governo Biden alivie as sanções que foram endurecidas por seu antecessor, Donald Trump
“A expectativa do governo de Maduro de ir à mesa é obter concessões, não da oposição, mas do governo dos Estados Unidos”, disse Mariano de Alba, assessor sênior do não-governamental Grupo de Crise Internacional.
QUAL O INTERESSE DA OPOSIÇÃO?
A coalizão de oposição liderada por Juan Guaidó disse que buscará promover um plano de importação maciça de vacinas COVID-19 e um “Acordo de Salvação Nacional” que envolverá negociações com o governo de Maduro e seus aliados locais, organizações de oposição e a comunidade internacional. Guaidó, que os Estados Unidos e outros países reconhecem como o legítimo líder da Venezuela, rejeitou sistematicamente qualquer coexistência com Maduro, mas abandonou essa posição quando propôs o acordo nacional pela primeira vez em maio.
Apenas cerca de 3,9% dos 28,5 milhões de residentes da Venezuela estão totalmente vacinados, de acordo com a Universidade Johns Hopkins.
A oposição também quer um calendário de eleições transparentes e democráticas. Os venezuelanos devem eleger governadores e prefeitos em novembro, mas as forças da oposição dizem que as condições eleitorais são grosseiramente injustas e ainda não decidiram se participarão.
De Alba disse que a oposição “tem muito pouco poder de barganha” para pressionar Maduro nas eleições. Ele disse que Guaidó e seus aliados só podem tentar alcançar “melhores condições” na votação de novembro e chegar a alguns acordos parciais para tentar “reinstitucionalizar” o país.
QUE PAPEL OS NÓS PODEMOS TER?
O governo Biden tem sido favorável a uma solução negociada para as crises da Venezuela, mas ainda não está claro até que ponto estaria disposto a afrouxar as sanções econômicas. No mês passado, ele concordou em suspender a sanção e permitir que empresas não americanas exportem gás liquefeito de petróleo para a Venezuela, um movimento humanitário que permitirá que as pessoas eventualmente recuperem o acesso ao propano em vez de cozinhar no carvão ou no fogão a lenha.
David Smilde, assessor sênior do independente Washington Office for Latin American Affairs, disse que o governo dos Estados Unidos, junto com a União Europeia e o Canadá, “está disposto a negociar sanções mesmo se Maduro estiver no poder”. Mas, dadas as eleições intermediárias dos Estados Unidos marcadas para o próximo ano, alguns analistas acreditam ser possível que Biden evite decisões a favor do governo venezuelano que podem complicar as opções do Partido Democrata, especialmente no estado da Flórida, onde uma grande comunidade cubana e venezuelana se opõe a Maduro.
O QUE ACONTECE COM O RESTO DA COMUNIDADE INTERNACIONAL?
A complexa dinâmica criada mundialmente pela pandemia do coronavírus, a duração das crises venezuelanas e o fracasso dos diálogos anteriores enfraqueceram o interesse da comunidade internacional pelo país sul-americano, o que sugere que os resultados dessas últimas discussões dependerão em grande parte dos atores venezuelanos.
A Noruega está apoiando o diálogo no México. Representantes da Rússia, Argentina, Holanda e França poderiam acompanhar o governo e os delegados da oposição, mas não está claro qual seria seu papel.