O Taleban declarou que a “guerra acabou no Afeganistão”, uma vez que reivindicou a vitória sobre o país após a captura da capital Cabul.
O governo democrático do Afeganistão entrou em colapso no domingo, com pouca resistência do presidente Ashraf Ghani, que fugiu do país quando o Taleban chegou às portas de Cabul.
Um porta-voz do Taleban pediu “relações internacionais pacíficas” em uma entrevista à Al Jazeera, dizendo que o tipo de governo e a forma do regime ficarão claros em breve.
“Hoje é um grande dia para o povo afegão e o Mujahideen. Eles testemunharam os frutos de seus esforços e sacrifícios por 20 anos “, disse Mohammad Naeem, porta-voz do gabinete político do Taleban, à estação de TV.
“Graças a Deus, a guerra acabou no país.”
Cenas dramáticas foram testemunhadas quando comandantes do Taleban assumiram o controle do palácio presidencial com dezenas de combatentes armados.
O Taleban celebrou seu retorno ao poder vinte anos depois que o grupo perdeu o controle do Afeganistão quando uma coalizão liderada pelos Estados Unidos assumiu o país. As décadas de duras conquistas dos militares dos EUA e das forças da Otan foram completamente apagadas após semanas de combates entre os combatentes do Taleban e as forças afegãs em todo o Afeganistão, após a rápida retirada das forças dos EUA em julho.
“Alcançamos o que buscávamos, que é a liberdade de nosso país e a independência de nosso povo”, disse Naeem. “Não permitiremos que ninguém use nossas terras para atacar ninguém e não queremos prejudicar os outros.”
O colapso relâmpago do governo de Cabul levou países como EUA, Reino Unido, Nova Zelândia e vários outros a realizar a evacuação de emergência de seus diplomatas e cidadãos presos no Afeganistão.
Cabul caiu no caos enquanto civis e nações estrangeiras tentavam escapar da capital sitiada.
Imagens nas redes sociais mostraram centenas de pessoas com suas bagagens aglomeradas na prancha de embarque de um avião, algumas delas penduradas em uma tentativa desesperada de entrar na aeronave.
Tiros de arma de fogo também foram disparados no aeroporto por soldados americanos destacados no aeroporto para proteger a evacuação de seus cidadãos, levando à morte de pelo menos cinco pessoas.
“A multidão estava fora de controle”, disse um funcionário dos EUA à Reuters por telefone. “O disparo foi feito apenas para neutralizar o caos.”
Em meio à tentativa do Taleban de se apresentar com novas intenções, muitos temem retomar as práticas brutais com a imposição da sharia, ou lei religiosa islâmica. Durante seu governo no país de 1996 a 2001, punições severas como apedrejamento, chicotadas e enforcamentos foram aplicadas e as mulheres não foram permitidas em locais públicos desacompanhadas de um membro da família do sexo masculino.
Mas Naeem disse que o grupo respeita os direitos das mulheres e das minorias e a liberdade de expressão dentro da lei Sharia. Ele disse que o Taleban não quer governar o país isoladamente e quer relações pacíficas com outros países.
“Pedimos a todos os países e entidades que se sentem conosco para resolver quaisquer questões”, disse ele em entrevista à TV Al Jazeera. “Não achamos que as forças estrangeiras irão repetir sua experiência fracassada no Afeganistão mais uma vez”, disse ele.
Na segunda-feira, a Autoridade de Aviação Civil do Afeganistão emitiu um comunicado dizendo que o “lado civil” do aeroporto havia sido “fechado até novo aviso” e os militares agora controlarão o espaço aéreo.
As cidades permanecem desertas enquanto uma nova presença de combatentes do Taleban foi vista na capital.
“Havia alguns combatentes do Taleban em cada estrada e cruzamento da cidade”, Shah Mohammad, um jardineiro de 55 anos, disse à AP quando chegou para trabalhar no bairro diplomático. Ele disse que o trânsito estava aquém do normal e que poucas pessoas estavam nas ruas.
