O escritor e ex-vice-presidente da Nicarágua Sergio Ramírez anunciou na sexta-feira que irá morar na Espanha, depois que o governo do presidente Daniel Ortega tentou prendê-lo e proibiu seu último livro.
O escritor de 79 anos serviu como vice-presidente durante o primeiro governo de Ortega de 1985 a 1990. Mas em meados dos anos 1990 ele se distanciou de Ortega, junto com outros intelectuais e ex-guerrilheiros.
Ramírez se aposentou da política em 1996, mas continua sendo uma voz importante no país. Em setembro, o governo de Ortega emitiu um mandado de prisão contra ele por “atos que fomentam e incitam o ódio e a violência”.
Ramírez havia inicialmente dito que pretendia morar na vizinha Costa Rica
Ramírez disse que o governo apreendeu cópias de seu último romance, “Tongolele no sabía bailar”, e proibiu o livro.
Em junho, Ramiréz disse em uma entrevista que havia “possibilidade zero” de realizar eleições livres na Nicarágua em 7 de novembro e que as forças da oposição que participassem estariam apenas “legitimando” a reeleição de Ortega.
Ele disse que Ortega, de 75 anos, impôs um sistema de “terror” que impede as pessoas de tomarem as ruas livremente e que não tolerará nenhuma campanha eleitoral de oposição.
“Muita gente está deixando o país em massa, como não acontecia desde 2018 e existe muito medo entre as pessoas”, disse Ramírez. “Ninguém sabe se vai ser o próximo (detido pela polícia), ninguém sabe de quem é a casa que vai ser invadida.”
Na quinta-feira, a polícia nacional da Nicarágua prendeu dois líderes da principal associação empresarial privada do país, apenas um dia depois que um órgão regional pediu a libertação imediata de prisioneiros políticos.
Um comunicado policial disse que Michael Healy Lacayo e Álvaro Vargas, presidente e vice-presidente, respectivamente, do Conselho Superior de Empresas Privadas, enfrentam acusações que incluem lavagem de dinheiro, atos que diminuem a independência do país e incitam à interferência estrangeira, entre outros.
As acusações são semelhantes às apresentadas contra mais de três dúzias de pessoas, incluindo líderes políticos e estudantis e sete potenciais adversários de Ortega na eleição de 7 de novembro. Essas prisões começaram em maio e todos continuam detidos.
As últimas detenções ocorreram após uma votação retumbante na quarta-feira pelo Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos, que pediu a libertação de presos políticos na Nicarágua e expressou séria preocupação com as próximas eleições. Ortega pareceu dobrar sua estratégia de não deixar nenhum outro poder influente de pé.
Ortega governa sem interrupções desde 2007, após chegar ao poder pela primeira vez após a queda do ditador Anastasio Somoza em 1979.
Ortega afirmou que os protestos em massa contra seu governo em 2018 foram uma tentativa de golpe com apoio estrangeiro. Pelo menos 328 pessoas foram mortas quando o governo reprimiu esses protestos.