Rússia debate restringir internet e até energia elétrica à noite para conter queda na natalidade
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Ideia debatida na Rússia sugere limitar internet e energia após 22h para estimular natalidade, mas proposta gera críticas e não virou lei.
A Rússia enfrenta uma das mais graves crises demográficas de sua história recente, e o tema voltou ao centro do debate político após a divulgação de propostas consideradas polêmicas e até extremas para tentar reverter a queda acentuada da taxa de natalidade no país. Entre as ideias discutidas por parlamentares e autoridades regionais, uma chamou atenção pela repercussão internacional: a possibilidade de restringir o acesso à internet e até ao fornecimento de energia elétrica durante a noite, especialmente após as 22h.
A sugestão surgiu em debates legislativos e fóruns políticos regionais, como parte de um conjunto de medidas classificadas por seus defensores como “não convencionais”. O objetivo, segundo os proponentes, seria reduzir o tempo que casais passam em frente a telas, como celulares, computadores e televisões, incentivando maior convivência e, consequentemente, o aumento no número de nascimentos.

Crise demográfica pressiona governo russo
O debate acontece em um momento delicado para a Rússia. O país registra queda contínua na taxa de natalidade, combinada com envelhecimento da população e aumento da mortalidade em determinados períodos recentes. Dados oficiais apontam que o número de nascimentos vem diminuindo ano após ano, colocando em risco o crescimento populacional e a sustentabilidade de longo prazo do mercado de trabalho e do sistema previdenciário.
Diante desse cenário, o governo russo tem buscado alternativas para estimular famílias a terem mais filhos, incluindo incentivos financeiros, benefícios fiscais, ampliação de auxílios para mães e programas de apoio à infância. Ainda assim, os resultados dessas políticas têm sido limitados, o que abriu espaço para a discussão de ideias mais controversas.

Como funcionaria a proposta
Embora ainda sem formato legal definido, a ideia discutida prevê que o acesso à internet poderia ser reduzido ou interrompido durante a noite, possivelmente em horários padronizados, como após as 22h. Em versões mais radicais do debate, chegou-se a mencionar restrições ao fornecimento de energia elétrica em determinados períodos noturnos, o que afetaria diretamente o uso de dispositivos eletrônicos e entretenimento digital.
Defensores do conceito argumentam que:
- O uso excessivo de redes sociais, streaming e jogos online reduz o tempo de interação entre casais;
- A diminuição das distrações digitais poderia favorecer relações mais próximas;
- Medidas temporárias ou localizadas poderiam ter efeito simbólico e comportamental.
Críticas
A proposta, no entanto, enfrentou forte reação negativa de especialistas em demografia, economia e direitos civis. Para críticos, a ideia simplifica excessivamente um problema estrutural complexo e desvia o foco das causas reais da queda na natalidade.
Entre os principais pontos levantados estão:
- Custo de vida elevado, especialmente em grandes cidades;
- Dificuldade de acesso à moradia adequada;
- Falta de vagas em creches e escolas infantis;
- Insegurança econômica e instabilidade no emprego;
- Desafios para conciliar carreira e vida familiar.
Especialistas ressaltam que decisões sobre ter filhos estão muito mais ligadas à segurança financeira e ao futuro das famílias do que a hábitos noturnos relacionados ao uso de tecnologia.
Preocupações com direitos individuais
Outro ponto sensível do debate envolve liberdade digital e direitos individuais. Críticos alertam que qualquer tentativa de limitar internet ou energia por decisão estatal pode abrir precedentes perigosos, afetando:
- Liberdade de comunicação;
- Atividades profissionais noturnas;
- Educação a distância;
- Serviços essenciais que dependem de conectividade.
Organizações e analistas também apontam possíveis impactos econômicos negativos, especialmente para trabalhadores autônomos, empresas digitais e setores que operam em horários alternativos.

Debate revela dimensão do problema
Mesmo sem efeito prático imediato, a proposta expõe a gravidade da crise demográfica russa. O simples fato de ideias tão extremas entrarem na pauta política indica o nível de preocupação do governo com o declínio populacional e a dificuldade de encontrar soluções eficazes.
Analistas apontam que o debate também reflete um conflito maior entre controle estatal, tecnologia e vida privada, em um contexto em que governos ao redor do mundo enfrentam desafios semelhantes, ainda que por caminhos diferentes.

Por fim, a discussão sobre restringir internet e energia elétrica durante a noite para estimular a natalidade mostra como a Rússia tem considerado medidas fora do padrão diante de um problema estrutural de longo prazo. Embora a proposta ainda esteja longe de se tornar realidade, ela gerou um debate amplo sobre eficácia, direitos individuais e prioridades de políticas públicas.
Para especialistas, soluções duradouras passam menos por restrições comportamentais e mais por melhorias nas condições econômicas, sociais e familiares. O episódio reforça que a crise demográfica russa não é apenas estatística — é política, social e profundamente complexa.
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