STF redefine impeachment de ministros: O que muda com a liminar de Gilmar Mendes
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Liminar do ministro Gilmar Mendes restringe pedidos de impeachment no STF — apenas a PGR poderá denunciá-los e quórum sobe para dois terços do Senado.
O que Mudou na lei do Impeachment
No dia 3 de dezembro de 2025, o decano do STF, Gilmar Mendes, concedeu uma decisão liminar que altera dispositivos fundamentais da Lei 1.079/1950 — que rege o impeachment de autoridades públicas no Brasil no que se refere a ministros da Corte.
Com a medida, ficam suspensas provisoriamente normas que permitiam que qualquer cidadão denunciasse ministros, e que a aprovação de um pedido de impeachment exigisse apenas maioria simples no Senado. A nova regra determina que somente a Procuradoria‑Geral da República (PGR) poderá protocolar pedidos de impeachment contra magistrados — e que os casos só poderão avançar se contarem com dois terços dos senadores.
Além disso, a decisão proíbe que o mérito das decisões judiciais — ou seja, a divergência política ou legal, seja usado como argumento para abertura de impeachment. Segundo Gilmar Mendes, usar o impeachment como represália por votos contrários “gera insegurança jurídica e ameaça a independência do Judiciário”.
O ministro argumenta que a lei, de 1950, está desatualizada e foi feita no contexto da Constituição de 1946 — antes da promulgação da Constituição vigente (1988). Por isso, segundo ele, a norma “cadu cou” e precisa ser reinterpretada para respeitar a independência judicial prevista na Carta Magna.
Por que o STF afirma que a medida é necessária
Na justificativa da liminar, o STF aponta que a multiplicação de pedidos de impeachment, muitos com base em discordâncias político-partidárias — criou um ambiente de “instabilidade e ameaça” à atuação independente dos magistrados.
Para o tribunal, permitir que qualquer cidadão denuncie ministros por crime de responsabilidade, sem testes de plausibilidade, e com quórum baixo, abre caminho para “impeachments-instrumento” — isto é, manobras políticas de pressão ou retaliação contra juízes que contrariem projetos de poder.
Com isso, a Corte busca, segundo o próprio Gilmar Mendes — assegurar a autonomia, estabilidade e imparcialidade do Judiciário, considerando que a responsabilização de magistrados deve seguir critérios rigorosos, não ser usada como arma política.
Reação de políticos e críticas ao STF
A decisão provocou críticas imediatas no Senado. O presidente da Casa, Davi Alcolumbre, e diversos senadores da oposição afirmaram que a liminar tenta “usurpar prerrogativas” do Legislativo.
O senador Marcos Rogério (PL-RO) afirmou que a mudança consolida um movimento de concentração de poder: “antes já era difícil, agora será praticamente impossível” abrir impeachment contra ministros.
A Advocacia‑Geral da União (AGU) também contestou a liminar, argumentando que restringe o controle social e o direito constitucional de qualquer cidadão denunciar autoridades por crimes de responsabilidade.
Apesar da pressão, Gilmar Mendes negou o pedido de reconsideração da AGU, reforçando que a liminar tem base constitucional e que não cabe “recurso atípico” nesse caso.

Implicações para a democracia e a separação de Poderes
A decisão do STF está sendo vista por muitos especialistas como um marco institucional, um endurecimento das proteções à Corte, mas também como um possível enfraquecimento dos mecanismos de controle e responsabilização dos magistrados.
Pontos a favor (segurança jurídica e independência judicial)
- Reduz o risco de “impeachments-instrumento” motivados por disputas políticas.
- Garante que magistrados não sejam alvo de denúncias em massa sem base técnica — protegendo a imparcialidade da Corte.
- Impõe quórum elevado e prerrogativa da PGR, elevando o rigor para afastamentos e sanções.
Pontos de atenção (transparência e controle democrático)
- Limita o poder de cidadãos comuns de acionar o Congresso contra alegadas irregularidades de ministros, restringindo o controle social.
- Concentra o poder de denúncia na PGR, o que pode gerar críticas sobre risco de parcialidade ou conivência institucional.
- Pode representar um desequilíbrio entre os Poderes, enfraquecendo o papel fiscalizador do Legislativo sobre o Judiciário.
O que esperar nos Próximos Dias
A liminar de Gilmar Mendes será submetida ao plenário virtual do STF, com data marcada entre 12 e 19 de dezembro de 2025. Nesse julgamento, os demais ministros decidirão se confirmam ou revogam a mudança.
Se a decisão for referendada, o novo rito para impeachment de ministros entra em vigor – e pedidos futuros terão de obedecer aos critérios mais restritos. Caso contrário, a lei de 1950 será mantida como estava.
Paralelamente, no Congresso, a reação dos parlamentares pode passar por uma tentativa de alterar a Constituição para preservar a prerrogativa tradicional do Senado e a participação popular — o que dificilmente será trivial.
A discussão mobiliza o país para um debate essencial: como equilibrar a independência judicial com mecanismos de controle e responsabilidade democrática.
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