Vácuo Jurídico em São Paulo: Prefeitura Pode Fiscalizar Mototáxi?

Vácuo Jurídico em São Paulo: Prefeitura Pode Fiscalizar Mototáxi?

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Vácuo Jurídico em Fiscalização de Mototáxi em São Paulo: Impactos e Desafios

A recente promessa do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), de reforçar a fiscalização da atividade de mototáxi na capital levanta questionamentos sobre a base jurídica que sustenta essa ação. Enquanto o serviço de caronas em motocicletas, anunciado pela empresa 99, foi proibido por decreto municipal, a operacionalidade da fiscalização e a competência da prefeitura são temas cercados de confusão e incertezas.

O Contexto da Proibição

Em 2023, a gestão Nunes editou um decreto que proíbe o serviço de mototáxi na capital paulista, visando coibir uma prática que já é alvo de críticas e preocupações quanto à segurança pública. Embora o prefeito tenha manifestado a intenção de intensificar a fiscalização em parceria com a Polícia Militar, o que se observa na prática é um aparente vácuo jurídico que pode dificultar a aplicação de penalidades efetivas.

Entendimento das Autoridades

Um dos pontos centrais da discussão refere-se ao fato de que, mesmo com o decreto em vigor, a conduta de levar um passageiro na garupa da motocicleta não é classificada como infração de trânsito. Essa distinção jurídica cria um obstáculo significativo para a aplicação de multas e outras sanções aos motociclistas que possam estar operando de forma irregular.

Marcelo Marcos da Costa, coordenador da comissão de trânsito da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo), enfatiza essa lacuna, afirmando: “Não vejo como o motociclista possa ser punido.” Para ele, as sanções devem ser dirigidas à empresa que oferta o serviço, ao invés do motorista.

A Reação da Justiça

A controvérsia ganhou novos capítulos quando a 99 anunciou sua intenção de retomar o serviço de caronas em motocicletas. Em resposta, o judiciário manteve a proibição válida, destacando que a análise do caso não apresentava necessidade urgente. Isto reforça a ideia de que, até que a questão seja decidida de forma definitiva, as ações da prefeitura na fiscalização desse serviço continuarão a enfrentar barreiras jurídicas.

Regulamentações e Jurisprudência

Historicamente, outras tentativas de regulamentação do mototáxi em São Paulo esbarraram em decisões judiciais que consideravam as leis municipais inconstitucionais. Em 2018, um decreto que impunha multas de R$ 1.000, além do confisco de veículos, foi anulado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo, que considerou que a legislação municipal invadia competências da União ao tratar sobre o serviço.

Atualmente, tanto a 99 quanto a Uber argumentam que operam dentro das diretrizes legais, alegando que seu modelo de negócio se diferencia do mototáxi tradicional. O entendimento da OAB-SP, no entanto, é de que a regulamentação do serviço é fundamental para se evitar esse tipo de imbróglio jurídico e para garantir a segurança dos usuários.

Comparações com Outros Modais de Transporte

A situação atual pode ser comparada à regularização do transporte alternativo, como as vans de transporte clandestino, que eram comuns até a década de 2000 em São Paulo. A OAB-SP argumenta que a utilização de regulamentações municipais foi efetiva na restrição desses serviços. Entretanto, no caso em análise, a dificuldade em fiscalizar caronas por aplicativos se intensifica, especialmente porque não há um mecanismo que obrigue os usuários a apresentarem seus dados durante as blitzes que tentam coibir a prática.

Lacunas Legais e Consequências

Nos últimos meses, a prefeitura registrou apreensões de veículos que estavam operando com caronas pela 99, mas especialistas apontam que o processo legal para fiscalizar a prática é falho em sua concepção. O vácuo jurídico persiste, permitindo que empresas se aproveitem da ausência de regulamentação clara em diversos municípios.

“A legislação não é clara sobre as regras do mototáxi, e acho que isso terá de ser resolvido pelo Judiciário”, diz Costa. Ele antecipa que esta será uma questão complexa que exigirá horas em debate jurídico.

Propostas para a Prefeitura

Dentre as possíveis abordagens para enfrentar essa realidade, especialistas sugerem que a prefeitura deve considerar a criação de um marco legal que regule a atividade dos mototaxistas e da operação de aplicativos de carona. A simples ausência de uma estrutura administrativa torna a fiscalização não apenas complexa, mas ineficaz.

Maurício Januzzi, advogado especialista em direito do trânsito, defende que a principais ações que a prefeitura deveria tomar incluem:

  1. Ação Judicial: Promover ações legais visando à suspensão imediata do serviço que contraria a proibição, com previsão de multas para os offenders.
  2. Regulamentação: Estabelecer uma regulamentação clara que aborde a atividade de mototáxi, definindo obrigações, direitos e penalidades.
  3. Parcerias com autoridades: Potencializar parcerias com a Polícia Militar e outras instituições para garantir a fiscalização.

Questões de Segurança no Trânsito

A discussão sobre o mototáxi se intensifica ainda mais quando se analisa a segurança no trânsito da cidade de São Paulo. De acordo com dados recentes, São Paulo registrou 935 mortes no trânsito entre janeiro e novembro de 2023, um aumento significativo em relação a anos anteriores. Os motociclistas, que representam 37% das fatalidades nesse mesmo período, tornam-se um grupo de atenção especial.

Um relatório elaborado pela prefeitura indicando que as caronas em motocicletas representam “um grande risco de saúde pública” destaca a urgência em abordar essa questão de maneira sólida. Os dados mostram que o aumento de viagens por motociclistas potencializa a probabilidade de acidentes, além de criar um perigo adicional pela interação direta com os passageiros.

Conclusão

O desafio da fiscalização do mototáxi em São Paulo ilustra um complexo enfrentamento entre a regulamentação municipal e a dinâmica de um serviço que cresce na oferta, mas que carece de um suporte legal robusto. O que se percebe é a necessidade urgente de um quadro normativo que não só regulamente o serviço, mas que estabeleça diretrizes claras para a operação de empresas de transporte por aplicativo, garantindo, assim, um ambiente mais seguro para todos.

A busca por soluções efetivas exige um diálogo contínuo entre a prefeitura, o judiciário e a sociedade civil. Sem um esforço conjunto para erradicar as lacunas legais e proteger a vida de motoristas e passageiros, a disputa permanecerá no âmbito judicial, transformando o que deveria ser uma medida efetiva de segurança pública em uma eterna batalha burocrática.

Imagens

Para este artigo, foram utilizadas imagens com as seguintes legendas:

  • “Motocicleta em Trânsito” - Licença gratuita.
  • “Fiscalização de Trânsito” - Imagem própria, livre de direitos autorais.

Este artigo tem como objetivo não apenas informar, mas engajar os cidadãos na discussão sobre questões jurídicas e de segurança pública que afetam diretamente a vida urbana.

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