Uma descoberta arqueológica notável lançou nova luz sobre o colapso da antiga civilização maia na América Central. A destruição ritual dos ícones simbólicos de uma dinastia real deposta revela a complexidade desse declínio. A descoberta em Ucanal, norte da Guatemala, juntamente com textos hieroglíficos maias transcritos de outros locais, fornece um vislumbre da instabilidade política que mudou a história maia. Arqueólogos acreditam que a queima do esqueleto de um rei e dos trajes funerários sagrados representa a profanação deliberada de um novo sistema político dos antigos governantes reais de um reino maia. Este é um dos exemplos mais marcantes de conflitos geopolíticos antigos na civilização maia e uma das descobertas arqueológicas mais significativas da América Central.
Os reinos maias
A civilização maia consistia em dezenas de reinos muitas vezes concorrentes. Embora a profanação em Ucanal pareça ter dado a esse reino uma nova vida temporária, fazia parte de uma instabilidade geopolítica mais ampla que contribuiu para mudanças fundamentais na civilização maia. Entre 600 e 800 DC, a civilização atingiu seu auge, mas por volta de 900 DC, grande parte do mundo maia entrou em declínio. A invasão por um povo do extremo ocidental da civilização maia pode ter sido parte desse declínio no século IX. A profanação evidencia os extremos que os novos governantes foram para destruir o poder espiritual e político da dinastia deposta.
A maioria da antiga cidade maia de Ucanal ainda está enterrada sob a vegetação. O monte coberto de grama esconde uma grande pirâmide não escavada. Essa descoberta arqueológica, aliada a outras evidências, lança luz sobre um momento crucial na história maia, mostrando mudanças políticas, econômicas e sociais significativas.
Os trajes sagrados destruídos em Ucanal incluíam a máscara mortuária de jade de um rei, uma coroa real, pingentes de jade, lâminas de obsidiana e roupas feitas de conchas marinhas. A queima pública dos esqueletos e insígnias reais foi completa, com temperaturas superiores a 800°C, fragmentando os itens sagrados. Essa descoberta fornece insights sobre o início de uma nova era política entre os maias.
Papmalil
O governante estrangeiro que assumiu Ucanal era um homem militar chamado Papmalil, que se considerava um senhor militar e político, controlando um território maior. Os eventos em Ucanal marcaram o declínio da civilização maia, com causas complexas, incluindo crises climáticas, superpopulação, desunião política, problemas econômicos e comerciais, e possivelmente epidemias e guerras. Apesar do declínio das megacidades maias, a cultura e o povo maias sobreviveram até os dias atuais, mantendo suas tradições.
Os maias foram impactados pela conquista espanhola, com a conquista concluída após 170 anos. Hoje, os maias são uma cultura vibrante, com seis milhões de pessoas em cinco países da América Central falando línguas maias e mantendo tradições antigas. A descoberta da profanação em Ucanal será publicada na revista internacional de arqueologia Antiguidade.
As escavações em Ucanal revelaram uma cidade de dezesseis quilômetros quadrados com um núcleo urbano monumental de três quilômetros quadrados. Mais de 2.297 edifícios foram mapeados, incluindo 65 complexos monumentais com mais de 14 pirâmides.