Os cachalotes são mamíferos conhecidos pela sua sociabilidade e por serem frequentemente vistos em grupos de 15 a 20, chamados de grupos. Eles se comunicam através de cliques rítmicos, conhecidos como codas. Pesquisas anteriores mostraram que cada clã de cachalotes tem um sotaque único e que usam cliques para comunicar sua identidade.
Um estudo publicado na revista Nature Communications revelou que a comunicação dos cachalotes é mais complexa do que se imaginava, oferecendo insights sobre como esses animais transmitem significado. Os cientistas descobriram que os cachalotes conseguem modular seus cliques de maneira semelhante à forma como os humanos falam.
Pratyusha Sharma, estudante de doutorado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts e líder do estudo, comparou os cliques dos cachalotes à fala humana, destacando a combinatorialidade presente nas vocalizações desses animais. Assim como os humanos combinam sons para formar palavras, os cachalotes modulam seus cliques usando ritmo, andamento, rubato e cliques extras, conhecidos como ornamentos, para formar as codas.
Os cachalotes são considerados uns dos animais mais barulhentos dos oceanos, com cliques que chegam a cerca de 230 decibéis debaixo d’água, permitindo que se comuniquem por milhares de quilômetros. Para o estudo, a equipe analisou dados do Projeto Cachalote de Dominica, que contém informações sobre os padrões de vocalização desses animais.
Os pesquisadores conseguiram criar um “alfabeto fonético do cachalote” a partir das combinações de cliques identificadas nas vocalizações. Esse sistema permitiu explicar a variabilidade observada na estrutura das codas dos cachalotes do Caribe Oriental. A função comunicativa de muitas codas ainda é uma questão em aberto, mas os resultados do estudo mostram que o sistema de comunicação dos cachalotes é capaz de representar um grande espaço de significados possíveis, utilizando mecanismos semelhantes aos sistemas humanos de produção sonora.
Os autores do estudo ressaltaram que sistemas de vocalização combinatória como o dos cachalotes são extremamente raros na natureza e que sua existência mostra que essa capacidade não é exclusiva dos humanos. Ela pode surgir de pressões fisiológicas, ecológicas e sociais diferentes, demonstrando a complexidade da comunicação dos cachalotes e abrindo portas para novas descobertas sobre a linguagem animal.