O chanceler alemão, Olaf Scholz, afirmou ao líder chinês Xi Jinping, durante sua visita a Pequim na terça-feira, que a invasão em larga escala da Ucrânia pela Rússia representa uma ameaça à segurança global. Ele fez um apelo aparente à China para exercer maior pressão sobre seu vizinho e parceiro estratégico próximo a fim de resolver o conflito.
Scholz também enfatizou a Xi, durante a reunião, que o uso de armas nucleares na guerra em curso não deveria sequer ser considerado, conforme relatado pela mídia alemã. O presidente russo, Vladimir Putin, alertou no mês passado que a Rússia está pronta para usar armas nucleares caso sua soberania ou independência sejam ameaçadas, em sua mais recente ameaça desde a invasão da Ucrânia.
O chanceler alemão destacou a Xi que os “interesses centrais” da Alemanha foram impactados pela guerra na Ucrânia, ameaçando se transformar em um conflito regional e perturbando o fornecimento de energia, alimentos e outros tipos de comércio global. Segundo Scholz, as ações da Rússia “violam um princípio da Carta das Nações Unidas e o princípio da inviolabilidade das fronteiras nacionais”, conforme citado pela mídia alemã.
A China se absteve de criticar a invasão e manteve laços estreitos com a Rússia. Apesar de afirmar que não fornece assistência militar a Moscou, Pequim ofereceu um apoio econômico substancial para ajudar o país a lidar com as sanções do Ocidente.
Pequim tem defendido negociações de paz entre a Ucrânia e a Rússia, apresentando uma proposta que não aborda as principais disputas territoriais entre as partes. Essa proposta recebeu uma resposta morna dos países envolvidos e da comunidade internacional. A China continua enfatizando a importância da Carta das Nações Unidas nas questões internacionais, defendendo a soberania e integridade territorial de todas as nações, em aparente contradição com a postura militar da Rússia.
A agência de notícias oficial da China, Xinhua, citou Xi Jinping afirmando que os dois líderes discutiram outras questões relacionadas à Ucrânia. “A China apoia todos os esforços que visem a uma resolução pacífica da crise e apoia a convocação de uma conferência de paz internacional reconhecida pela Rússia e pela Ucrânia, com a participação igualitária de todas as partes e uma discussão justa de todas as opções de paz”, disse Xi.
Scholz, durante uma conversa com estudantes universitários em Xangai, ressaltou a importância da competição justa nas relações comerciais, alertando contra práticas desleais como dumping e excesso de produção. Sua visita destacou as tensões comerciais em meio a acusações de que a China está competindo de forma injusta, através de tarifas e roubo de propriedade intelectual, e interferência política.
A União Europeia está considerando a imposição de tarifas para proteger seus produtores contra importações de veículos elétricos chineses mais baratos, que poderiam inundar o mercado europeu.
Scholz iniciou sua viagem de três dias à China em Chongqing, centro industrial, visitando uma empresa parcialmente financiada pela Alemanha, antes de seguir para Pequim, onde se encontrou com o primeiro-ministro Li Qiang. Posteriormente, retornou a Berlim no final do dia.
Assim como a Rússia, a China é um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, com direito de veto. Um relatório da inteligência dos EUA concluiu recentemente que Pequim aumentou as vendas de equipamentos para Moscou, indiretamente impulsionando o esforço de guerra russo na Ucrânia.
Berlim também está preocupada com a possibilidade de uma invasão chinesa em Taiwan, uma ilha autogovernada reivindicada por Pequim. Scholz enfatizou aos estudantes em Xangai que as fronteiras não devem ser alteradas à força, ressaltando a importância das instituições internacionais como a Organização Mundial do Comércio.
Apesar das tensões políticas e comerciais, a China foi o principal parceiro comercial da Alemanha pelo oitavo ano consecutivo em 2023, com um volume de comércio de 254,1 bilhões de euros. Essa parceria econômica foi ligeiramente maior do que a Alemanha teve com os EUA, apesar de uma contração de 15,5 bilhões de euros em relação ao ano anterior.
Esta é a segunda viagem de Scholz à China desde que se tornou chanceler no final de 2021. Sua visita anterior foi em novembro de 2022 e foi principalmente um evento de um dia, devido às restrições da COVID em vigor na época.
Essa é sua primeira visita desde que o governo alemão apresentou sua estratégia para a China no ano passado, que gerou críticas de Pequim. Em junho, o primeiro-ministro Li e uma delegação de altas autoridades visitaram Berlim.