Absolvição das Mineradoras no Caso da Barragem de Mariana: Um Desdobrar da Justiça e suas Implicações
Na última quinta-feira, 14 de novembro de 2023, o Tribunal Regional Federal da 6ª Região (TRF-6) proferiu uma decisão que absolveu as mineradoras Samarco, Vale e BHP em um dos casos mais emblemáticos de tragédia ambiental no Brasil. O programa de recuperação da Barragem do Fundão, que se rompeu em 5 de novembro de 2015, trouxe uma onda de indignação pública, fazendo ecoar os questionamentos sobre a responsabilização das empresas envolvidas. Esta decisão ocorre quase oito anos após o desastre que ceifou 19 vidas e despejou 43,8 milhões de metros cúbicos de rejeitos no Rio Doce e no meio ambiente. Neste artigo, exploraremos os detalhes da decisão, a reação ao veredicto e suas consequências para as vítimas e para a justiça ambiental no Brasil.
Contexto do Desastre de Mariana
O rompimento da Barragem do Fundão, operada pela Samarco e controlada pela Vale e BHP, é reconhecido como uma das piores tragédias ambientais do Brasil. O desastre não apenas causou mortes, mas também impactou comunidades, ecossistemas e a economia da região de Mariana.
O Que Aconteceu em 5 de Novembro de 2015
- Data do desastre: 5 de Novembro de 2015
- Causas: Sobrecarga na estrutura da barragem, falhas de fiscalização, e a falta de alertas sobre os riscos
- Consequências imediatas:
- 19 mortes confirmadas
- Destruição e contaminação do Rio Doce
- Impacto ecológico abrangente, afetando fauna e flora
Detalhes da Decisão do TRF-6
A decisão do TRF-6 absolveu não apenas as empresas envolvidas, mas também vários diretores e gerentes que estavam no cargo no momento do desastre. Entre os absolvidos, destacam-se:
- Ricardo Vescovi de Aragão – Diretor-presidente da Samarco
- Kleber Luiz de Mendonça Terra – Diretor de operações da Samarco
- Germano Silva Lopes – Gerente geral de projetos estruturantes
- Daviély Rodrigues Silva – Gerente de geotecnia
- Wagner Milagres Alves – Gerente geral de operação
Além disso, o responsável técnico Samuel Santana Paes Loures e Paulo Roberto Bandeira, gerente executivo de geologia, também foram absolvidos.
Justificativas da Juíza
A juíza Patrícia Alencar Teixeira de Carvalho, responsável pelo julgamento, argumentou que:
- Escolha da equipe: Os diretores escolheram profissionais qualificados para conduzir as operações.
- Falta de comunicação: Os eventos que contribuíram para o agravamento do risco de ruptura da barragem não foram reportados à diretoria.
- Ausência de nexo causal: Na visão da juíza, não houve comprovação de que decisões ou omissões dos executivos contribuíram diretamente para o desastre.
Reações e Críticas à Decisão
A decisão de absolver as mineradoras e seus executivos gerou um sentimento de indignação em diversos setores da sociedade, especialmente entre as vítimas e suas respectivas comunidades.
Oposição e Reação das Vítimas
- O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) manifestou-se contra a decisão, argumentando que há evidências suficientes da responsabilidade das empresas. Para eles, a absolvição é uma forma de impunidade.
- O Ministério Público Federal (MPF) também se mostrou insatisfeito, afirmando que recorrerá da decisão do TRF-6.
Críticas ao Poder Judiciário
A sensação de impunidade foi amplamente discutida, com vozes críticas apontando que decisões como essa alimentam o ciclo de negligência em questões ambientais.
O Acordo de Indenização
Apesar da absolvição criminal, a decisão do TRF-6 não impactou o acordo civil firmado em outubro de 2023, que garante uma indenização de R$ 132 bilhões que será destinada à reparação dos danos causados pelo rompimento da barragem.
O Acordo Inclui:
- Indenizações diretas às vítimas
- Recuperação ambiental no Rio Doce e áreas afetadas
- Programas de assistência às comunidades impactadas
Implicações Futuras para a Justiça Ambiental
A absolvição das mineradoras levanta questões importantes sobre a justiça ambiental no Brasil e a forma como o sistema jurídico lida com crimes empresariais de grande magnitude.
A Necessidade de Reformas
- Transparência nas operações: Necessidade de supervisão mais efetiva sobre práticas industriais.
- Responsabilização efetiva: Implementação de leis que garantam a responsabilização de executivos por desastres ambientais.
- Engajamento comunitário: Melhor envolvimento das comunidades nas discussões sobre segurança e fiscalização de barragens.
Considerações Finais
A decisão do TRF-6 em absolver as mineradoras Samarco, Vale e BHP é um episódio que evidencia a fragilidade do sistema de justiça em lidar com crimes ambientais, especialmente quando grandes interesses empresariais estão em jogo. As reações de indignação por parte das vítimas e do público em geral refletem a necessidade de mudanças profundas não apenas no setor de mineração, mas em todas as esferas onde a exploração dos recursos naturais impacta a vida de comunidades inteiras.
Nos próximos meses, o acompanhamento do processo na justiça inglesa e as ações do MAB e do MPF poderão oferecer novos desdobramentos, mantendo acesa a chama da busca por justiça em um contexto onde a vida e o meio ambiente devem ser priorizados acima dos lucros corporativos.
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