Não é problema recusar quem faz apologia ao crime, diz secretário de Nunes
A recente polêmica envolvendo a música e a apologia ao crime tem gerado intensas discussões na sociedade e nas esferas políticas do Brasil. O secretário da Cultura de São Paulo, Totó Parente, defendeu em declaração que não é um problema recusar apoio a expressões artísticas que façam apologia ao crime. Essa afirmação foi feita no contexto de um projeto de lei, batizado de "anti-Oruam", que visa restringir financiamentos públicos a manifestações culturais que sejam associadas a condutas ilícitas.
O Contexto da Discussão
A controvérsia atual começou com a ascensão do cantor Oruam, que, com mais de 10 milhões de ouvintes mensais no Spotify, conquistou notoriedade na cena musical brasileira. No entanto, sua fama tem uma conexão polêmica: ele é filho de Marcinho VP, um dos líderes do Comando Vermelho, uma facção criminosa conhecida do Rio de Janeiro. No último Lollapalooza, Oruam causou comoção ao usar uma camiseta que pedia a liberdade para seu pai, que cumpre pena.
O Projeto de Lei "Anti-Oruam"
A vereadora Amanda Vettorazzo (União) propôs um projeto de lei na Câmara Municipal de São Paulo que visa, na prática, barrar o financiamento público a artistas que façam apologia ao crime. Embora o projeto não mencione diretamente Oruam, ele foi popularmente batizado de "anti-Oruam". A vereadora criou um site com sua foto e informações pessoais para incentivar a replicação da proposta em outras cidades.
Censura ou Proteção?
Esse projeto gerou reações diversas. Pesquisadores e ativistas culturais argumentam que a proposta é uma forma de censura direcionada não apenas a Oruam, mas também a movimentos culturais como o funk e o rap, que frequentemente abordam as questões sociais e a marginalização das comunidades periféricas.
O Que Diz a Prefeitura de São Paulo
O prefeito Ricardo Nunes (MDB) defendeu a posição da vereadora, afirmando que a proposta visa apenas um artista específico e que não afeta de forma geral o funk ou o rap. Segundo Nunes, é fundamental que qualquer expressão artística que faça apologia ao crime não receba apoio de recursos públicos. Ele reforçou que a discussão precisa ocorrer dentro do Poder Legislativo e que a Prefeitura acompanhará o desdobramento do projeto.
Papel da Cultura na Sociedade
Em suas declarações, o secretário Totó Parente criticou a divisão ideológica que permeia o debate cultural no Brasil. Ele afirma que a sociedade está cansada desse embate entre esquerda e direita e que, como secretário, a sua função é manter o diálogo entre todas as partes, buscando um entendimento que respeite a diversidade cultural.
A Posição de Parente sobre a "Cultura de Centro"
Parente se posiciona como “radicalmente de centro” e busca promover um debate construtivo em torno da cultura. Para ele, a música e a arte são representações dos sentimentos da cidade e devem ser acessíveis a todos. Ao criticar a polarização, ele ressalta a importância do diálogo e deseja que as discussões não se tornem um campo de batalha ideológico.
Parlamento e a Audiência Pública
O projeto "anti-Oruam" deverá passar por audiências públicas e discussões em comissões na Câmara Municipal, onde os cidadãos terão a oportunidade de apresentar suas opiniões. Essa etapa é fundamental para que se leve em consideração tanto os argumentos a favor da proteção à cultura quanto os preocupados com a liberdade de expressão.
Conclusão
As declarações do secretário Totó Parente e o projeto de lei proposto pela vereadora Amanda Vettorazzo geram um debate importante sobre a relação entre arte, crime e liberdade de expressão. O caso de Oruam, que traz consigo uma carga de controvérsias, reflete as complexidades do cenário cultural brasileiro, onde a música é tanto uma forma de expressão quanto um meio de contestação.
A sociedade deverá reposicionar suas ideias sobre o que é considerado apologia ao crime, como ela se relaciona com a arte e, principalmente, como decisões políticas e legislativas podem impactar a liberdade criativa de artistas de diversas vertentes. O desenrolar dessa história promete ser significativo para a política cultural do Brasil e para a maneira como a arte é percebida e regulamentada em contextos sociais complexos.
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