Especialistas alertam para uma “pandemia oculta” de abuso sexual online e instam os políticos a priorizarem a segurança das crianças na Internet como uma emergência de saúde pública comparável à Covid. Um novo relatório revelou novas perspectivas sobre a prevalência do abuso sexual online em todo o mundo e no Reino Unido.
De acordo com uma nova pesquisa realizada pela Universidade de Edimburgo, aproximadamente uma em cada oito crianças em todo o mundo foi vítima de tomada, compartilhamento e exposição não consensual a imagens e vídeos sexuais no ano passado, totalizando mais de 300 milhões de crianças. Além disso, estima-se que o mesmo número de crianças tenha sido submetido a sexting e pedidos de atos sexuais indesejados por adultos ou outros jovens.
No Reino Unido, um inquérito inédito a mais de 1.500 homens revelou que cerca de 1,84 milhões de homens podem ter cometido alguma forma de abuso sexual online contra menores de idade. Análises adicionais dos resultados desse inquérito destacaram que uma porcentagem significativa de homens no Reino Unido pode ter flertado, tido conversas sexuais, visto imagens sexuais e até participado de webcams sexuais explícitas com crianças.
Além disso, o Centro Nacional para Crianças Desaparecidas e Exploradas registrou 178.648 casos de arquivos contendo imagens sexuais de crianças carregadas ou hospedadas no Reino Unido no ano passado, o que equivale a quase 500 alertas diários.
Diante dessas alarmantes estatísticas, a Childlight, um instituto global de segurança infantil, instou os partidos políticos a priorizarem a segurança das crianças na Internet em suas campanhas para as próximas eleições gerais. Outras organizações líderes em segurança infantil, como a NSPCC e a Sociedade Infantil, também ecoam esse apelo.
Paul Stanfield, executivo-chefe da Childlight, ex-diretor da Interpol, destacou a conexão entre o abuso sexual infantil e problemas de saúde mental e física, incluindo doenças crônicas e mortalidade precoce, e comparou a urgência desse tema à pandemia de Covid. Ele enfatizou a necessidade de os políticos tratarem essa questão como uma emergência de saúde pública e de tomarem medidas concretas para proteger as crianças online.
Susie Hargreaves OBE, executiva-chefe da Internet Watch Foundation, elogiou a pesquisa da Childlight por evidenciar a escala do problema e reiterou a importância de proteger as crianças e combater o abuso e a exploração sexual infantil. Ela também destacou a necessidade de nova legislação para combater o abuso gerado pela inteligência artificial e garantir a eficácia da verificação de idade nas plataformas online.
Embora a Lei de Segurança Online dos Conservadores tenha sido aprovada em lei no ano passado, colocando a responsabilidade de proteger as crianças de materiais nocivos sobre as empresas de tecnologia, a implementação efetiva dessa lei ainda está pendente. Os Conservadores defendem que essa lei tornará o Reino Unido o lugar mais seguro do mundo para estar online, enquanto o Partido Trabalhista critica os atrasos na sua aplicação.
Rani Govender, da NSPCC, ressaltou a importância de incorporar as experiências e a segurança das crianças nas políticas e estratégias tecnológicas futuras, garantindo que elas sejam protegidas e não excluídas dos benefícios do mundo online. A Sociedade Infantil enfatizou a necessidade de políticas robustas que protejam as crianças no mundo digital e as mantenham seguras online.
É essencial que o governo e as empresas de tecnologia continuem trabalhando para responder às ameaças em constante evolução aos jovens e garantir sua segurança online. No entanto, propostas de proibição de smartphones ou redes sociais para menores de 16 anos podem ter consequências negativas, como criminalização das próprias crianças. Portanto, é fundamental uma abordagem mais abrangente e cooperativa para enfrentar o abuso online e proteger as crianças de maneira eficaz.