O presidente Joe Biden se reunirá com seu homólogo brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, na quarta-feira, em Nova York, enquanto os líderes das maiores democracias do Hemisfério Ocidental buscam áreas de consenso, apesar de algumas divergências recentes sobre a guerra na Ucrânia e outros assuntos.
A expectativa é que os dois discutam trabalho e meio ambiente. E altos funcionários da administração dos EUA que previram a reunião disseram que as duas nações estão a lançar uma parceria sobre os direitos dos trabalhadores.
As esperanças iniciais de que Lula se revelasse um forte aliado de Biden diminuíram nos últimos meses, com o líder brasileiro a manifestar oposição em algumas questões e, por vezes, até a parecer torcer o nariz a Washington.
Isso incluiu rejeitar as alegações de autoritarismo da Venezuela, apelar à diminuição da dependência do dólar para o comércio global e acusar os EUA de alimentarem o derramamento de sangue na Ucrânia ao fornecerem ajuda militar. Em seu discurso na Assembleia Geral da ONU na terça-feira, Lula criticou o embargo e as sanções dos EUA contra Cuba.
“O que Lula espera não é receber sermões dos EUA e da Casa Branca, mas ser tratado como um parceiro de quem eles às vezes discordarão, mas que eles respeitam”, disse Thomas Traumann, analista político brasileiro. não um adversário, alguém que está do seu lado, mas nem sempre do seu lado.”
Biden tinha relações frias com o antecessor de Lula. O ex-presidente de extrema direita Jair Bolsonaro, um admirador declarado de Donald Trump, esperou semanas antes de reconhecer a vitória eleitoral de Biden em 2020. Mais de um ano se passou antes que uma reunião bilateral ocorresse no contexto das preocupações dos EUA de que Bolsonaro, que estava lançando dúvidas sobre o sistema eleitoral do Brasil, pudesse rejeitar seus resultados.
Após a derrota de Bolsonaro, seus apoiadores invadiram a capital na tentativa de tirar Lula do poder. As circunstâncias tinham uma clara semelhança com Trump e o motim de 6 de janeiro no Capitólio. Lula viajou rapidamente para Washington, onde ele e Biden se uniram sobre os desafios à democracia que ambos conseguiram superar.
Apesar da experiência compartilhada e da aparente bonomia, a viagem desagradou as autoridades brasileiras, que consideraram a recepção do presidente recém-empossado pela Casa Branca como historicamente desanimadora, disse Traumann, que trabalhou no governo anterior de Dilma Rousseff, protegida de Lula.
A reunião de quarta-feira será a segunda. A parceria laboral planeada será um veículo para acabar com a exploração dos trabalhadores, o trabalho forçado e o trabalho infantil, bem como a discriminação no local de trabalho, segundo as autoridades norte-americanas. Eles falaram sob condição de anonimato para antecipar o anúncio.
O trabalho é um tema caro a Lula, que começou na política como líder de um poderoso sindicato dos metalúrgicos.
Os dois provavelmente também discutirão a preservação ambiental, com Lula pretendendo atrair contribuições financeiras para a floresta amazônica, disse Paulo Peres, cientista político da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Lula vem se apresentando como um líder ambiental e seu governo já registrou avanços significativos na Amazônia.
A desflorestação da Amazónia atingiu o máximo dos últimos 15 anos sob Bolsonaro, que apelou ao desenvolvimento da floresta tropical, encorajando madeireiros e mineiros a invadir áreas protegidas, ao mesmo tempo que prejudicava as autoridades ambientais. Lula começou a reconstruir essas agências, criou oito áreas protegidas para os povos indígenas e expulsou milhares de mineiros do enorme território indígena Yanomami. O desmatamento caiu quase pela metade nos primeiros oito meses.
Ele buscou contribuições internacionais para o Fundo Amazônia do Brasil, mas as doações foram pequenas e simbólicas. Em Fevereiro, os EUA comprometeram-se a fazer uma doação de 50 milhões de dólares para a iniciativa, embora ainda não tenha sido fornecida. Biden anunciou mais tarde que pediria ao Congresso mais US$ 500 milhões, que ainda não foram comprometidos.
As autoridades norte-americanas que falaram com os jornalistas procuraram minimizar as recentes críticas de Lula ao embargo e às sanções dos EUA a Cuba. Observaram que a administração Biden levantou as restrições de viagens a Cuba impostas pela administração anterior e também está em processo de reiniciar as remessas para aquele país.
Lula também visitou Nicolás Maduro, da Venezuela, em maio e disse que as alegações do autoritarismo do país decorrem de uma narrativa falsa – apesar das prisões políticas generalizadas e da interferência eleitoral, bem como das ameaças a jornalistas.
Os EUA estão prontos para aliviar as sanções se a Venezuela cumprir os marcos rumo a eleições credíveis, disse o conselheiro de segurança nacional Jake Sullivan aos jornalistas na sexta-feira. Ele se recusou a dizer se Biden abordaria o assunto da Venezuela em sua reunião bilateral.
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Livro relatado de Washington. A redatora da AP, Eleonore Hughes, do Rio de Janeiro, contribuiu para este relatório.
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